sexta-feira, 7 de março de 2008

A QUINHENTOS METROS

Não me sinto confortável em relação aos desentendimentos humanos, mas eles existem, afinal, fazem parte da natureza humana. Eu, pessoalmente, os considero muito exaustivos. Parece que fomos treinados para sempre termos a razão. Julgamos os fatos acreditando estarmos certos em nosso juízo sobre aqueles com os quais cruzamos. Ninguém quer ceder, mas seria interessante alguém ceder. Sabe por quê? Porque as relações humanas não podem ser transformadas em um campo de batalha, onde a opinião de um deve sobrepor a opinião do outro. É tanto desgaste pra nada. Nos consumimos por coisas tão pequenas, e todo o nosso julgamento vai por água abaixo quando já estamos distante. A distância entre as pessoas nos deixa muito pequenos. Isso me remete a um texto de Cecília Meireles:
"A quinhentos metros, os vossos belos olhos desaparecem, e essa claridade do vosso rosto; e a fascinação da vossa palavra. É uma pena, mas a quinhentos metros, tudo se torna muito reduzido; sois uma pequena figura sem pormenores; vossas amáveis singularidades fundem-se numa sombra neutra e vulgar.
Bem sei que tendes muitas inquietações: há um mês de maio na vossa memória, e um campo em flor, e um arroio que cantava numas pedrinhas... Mas para quem vos olha a uma distância de quinhentos metros, essas dimensões que levais convosco deixam de existir.
A quinhentos metros, na verdade, há muita ausência, vamos acabando muito depressa. Pensei que, geralmente, neste mundo, há sempre cerca de quinhentos metros de uma pessoa para outra! Somos só desaparecimentos.
E apenas quando conseguimos ficar, também a uns quinhentos metros de nós mesmos, encontramos algum sossego. Porque, então, é a vez dos nossos tormentos mudarem de proporções e aspectos. De serem vistos só de longe, sem pormenores, sem voz, nem ritmo: nem mês de maio, nem flores, nem arroio. Talvez a memória serenada. Talvez nem a memória.
É assim a quinhentos metros! "

quarta-feira, 5 de março de 2008

Hoje me vi pensando em perdão, paz, tranquilidade. Às vezes ficamos tão voltados para o nosso universo particular que não temos nem tempo de pensar em acertos de conta, ou seja, perdoar e ser perdoado por alguém. Percebo que o mundo está muito automático e rápido. Ninguém tem tempo pra quase nada, mas mesmo assim, é interessante arranjar um tempo pelo menos pra pensar na possibilidade de transformar nossa vida numa atmosfera de paz. A vida passa muito rápido. Clarice Lispector escreveu um texto interessante sobre esse assunto.
"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram, para aqueles que se machucam, para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade. A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre."
Interessante esse texto.

SOMBRAS DE GOYA

Hoje inicio o meu blog. Escolhi o título SOMBRAS DE GOYA porque gostei muito desse filme. O filme aborda temas fortes como o pintor catalão Francisco Goya, a inquisição da igreja católica, além da presença de Napoleão Bonaparte. Uma das musas inspiradoras do pintor foi vítima da inquisição. Mais de uma década depois ela é libertada, mas em estado de total loucura. O interessante é que no final do filme, durante a apresentação de letreiros de elenco, o expectador é presenteado por várias obras do mestre Goya, retratando assim expressões de um certo sofrimento vivido pela sociedade da época. O fundo musical é agradável.