Não me sinto confortável em relação aos desentendimentos humanos, mas eles existem, afinal, fazem parte da natureza humana. Eu, pessoalmente, os considero muito exaustivos. Parece que fomos treinados para sempre termos a razão. Julgamos os fatos acreditando estarmos certos em nosso juízo sobre aqueles com os quais cruzamos. Ninguém quer ceder, mas seria interessante alguém ceder. Sabe por quê? Porque as relações humanas não podem ser transformadas em um campo de batalha, onde a opinião de um deve sobrepor a opinião do outro. É tanto desgaste pra nada. Nos consumimos por coisas tão pequenas, e todo o nosso julgamento vai por água abaixo quando já estamos distante. A distância entre as pessoas nos deixa muito pequenos. Isso me remete a um texto de Cecília Meireles:
"A quinhentos metros, os vossos belos olhos desaparecem, e essa claridade do vosso rosto; e a fascinação da vossa palavra. É uma pena, mas a quinhentos metros, tudo se torna muito reduzido; sois uma pequena figura sem pormenores; vossas amáveis singularidades fundem-se numa sombra neutra e vulgar.
Bem sei que tendes muitas inquietações: há um mês de maio na vossa memória, e um campo em flor, e um arroio que cantava numas pedrinhas... Mas para quem vos olha a uma distância de quinhentos metros, essas dimensões que levais convosco deixam de existir.
A quinhentos metros, na verdade, há muita ausência, vamos acabando muito depressa. Pensei que, geralmente, neste mundo, há sempre cerca de quinhentos metros de uma pessoa para outra! Somos só desaparecimentos.
E apenas quando conseguimos ficar, também a uns quinhentos metros de nós mesmos, encontramos algum sossego. Porque, então, é a vez dos nossos tormentos mudarem de proporções e aspectos. De serem vistos só de longe, sem pormenores, sem voz, nem ritmo: nem mês de maio, nem flores, nem arroio. Talvez a memória serenada. Talvez nem a memória.
É assim a quinhentos metros! "
sexta-feira, 7 de março de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário